terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

SUGESTÕES DE ATIVIDADES DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS


SUGESTÕES DE ATIVIDADES DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS


Celeste Maria Fonseca Menezes*
Maria Eliana de Jesus Machado**
Nadir Santana de Santana***
Renilda Sizílio****

“Ideias para ensinar português para alunos surdos “livro  de Ronice Müller de Quadros e de Magali L.P.Schmiedt ,possui em sua estrutura 120 páginas, Apresentação, Prefácio, Capítulos 1, 2, 3 e Referências. Ronice Müller é professora e pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina no Centro de Comunicação e Expressão - CCE, no Departamento de Línguas Estrangeiras, é coordenadora geral na modalidade à distância do Curso de Letras Língua Brasileira de Sinais. Segundo as autoras a educação constitui direito de todos os cidadãos brasileiros, surdos ou não, e cabe aos sistemas de ensino viabilizar as condições de  comunicação que garantam o acesso ao currículo e à informação. A Língua Brasileira de Sinais - Libras e a Língua Portuguesa são as línguas que permeiam a educação de surdos e se situam politicamente enquanto direito. O Português é a  língua oficial do país e uma segunda língua para pessoas surdas o que exige um processo formal  para sua aprendizagem.  
As autoras pretendem com este livro, considerando o contexto apresentado no Capítulo 2:Sugestões de Atividades de Língua Portuguesa para Surdos, apresentar sugestões descritas com clareza pelos exemplos, descrições e imagens expostos. Apontam o objetivo, o material, o desenvolvimento da atividade, exemplos e imagens. Iniciando com a atividade “Trabalhando com o Saco das Novidades”, dinâmica realizada na educação infantil de uma escola de surdos do Rio Grande do Sul, adaptada para o trabalho com a Língua Portuguesa, as autoras  pretendem  estimular a habilidade na criança de se expressar perante o grupo expondo seus pensamentos de forma clara e  organizada. O saco é feito de pano, escrito “Saco de Novidades” e o nome logo abaixo do aluno ou aluna. Cada criança deve ter seu próprio Saco de novidades e toda sexta-feira será levado para casa e retornado na segunda-feira com uma novidade dentro, que pode ser um passeio, uma brincadeira, um lanche...
O texto apresenta o exemplo de uma boneca dentro do saco de novidades para se trabalhar formando frases e conjuntamente com o grupo formar um texto, ou uma história. Muito interessante essa atividade.
Segundo o texto“ Trabalhando o Saco de Surpresa” é  uma variação da atividade an-
terior, com a diferença de que  o professor escolhe e traz os objetos e não a criança. Se trabalha por temática e o objetivo é desenvolver na criança a capacidade de expressar sensações táteis ou visuais, de forma “oral” em língua de sinais e escrita, proporcionando à criança experiência de análise e síntese, descrição, classificação e conceituação. Também feito de pano, saco bem maior que o das novidades, onde podem ser colocados vários objetos, de formas e tamanhos diferentes, ao mesmo tempo. O tecido não pode ser transparente e os objetos escolhidos devem ser conforme o tema a ser trabalhado. O saco fica sempre na sala e pode ser utilizado pelo professor na introdução de temas. Atividade  desenvolvida em grupo, porém cada criança, um a um coloca a mão dentro do saco e pega um objeto e explora-o inicialmente sem vê-lo. A criança tenta descrever o objeto pela percepção tátil e desenvolve aí a conversação em língua de sinais com todo o grupo, até esgotar as possibilidades de questionamentos.

A atividade seguinte proposta no texto é “Trabalhando com mesas diversificadas”, dinâmica desenvolvida diante de dificuldades e desafios no trabalho de alfabetização de surdos pela professora Jane, do Rio Grande do Sul. Esta atividade tende a desenvolver na criança autonomia para realização de tarefas; propiciar no mesmo período da aula, atividades diferenciadas de forma dinâmica e interessante. Com materiais diversificados dependendo das atividades programadas para as mesas, abrangendo diversas áreas do conhecimento, envolvendo uma ou mais temáticas, incluindo jogos e /ou brincadeiras, podem ser individualmente ou em grupos pequenos, conforme objetivos traçados pelo professor. O número de mesas deve ser maior que o número de crianças para manter o fluxo de revezamento das crianças nas atividades. O professor explica cada atividade e o material a ser utilizado em cada mesa, e cada atividade terminada é trocada de mesa até que todas as crianças tenham participado de todas as mesas ou que termine o tempo dado pelo professor para a atividade. No final das atividades fazer e explorar um registro geral da dinâmica, usar os dados quantitativos para criação e resolução de problemas matemáticos. E usar os materiais produzidos em outras atividades com a língua portuguesa.
A atividade seguinte apresentada no texto é “Trabalhando com Vivência”, que segundo as autoras, essa atividade é enriquecedora para a criança que experimenta, cria e descobre novos conceitos, também para o educador se souber aproveitar cada momento, levantando questionamentos significativos para as crianças e para seu trabalho como um todo. Elas salientam  ainda que a palavra “vivência” nesta atividade significa  toda situação de experiência proporcionada às crianças e planejada com elas, com objetivos definidos. Toda vivência está contextualizada em um texto oral, ou seja, o professor e as crianças conversam sobre o que está acontecendo (crianças surdas na língua de sinais passando posteriormente para registro na língua portuguesa). O texto apresenta um exemplo: “Trabalhando com o reino vegetal”, onde é exposta uma foto de um grupo de surdos da 3ª série fazendo um estudo sobre o reino vegetal.
O texto apresenta a atividade “Trabalhando Leitura e Vocabulário”  é uma atividade interessante pois as autora afirmam que trabalhar com lista de palavras soltas, fora de um contexto, não produz bons resultados na aprendizagem de uma língua, então, “palavras novas” devem ser trabalhadas partindo-se de textos. A sugestão aqui, segundo o texto é que a fixação de vocabulário e desenvolvimento na leitura ocorre também a partir de jogos e brincadeiras, então o objetivo desta atividade é ampliar e fixar o conhecimento de palavras da língua portuguesa de forma lúdica.

A última atividade trabalhando com “Produção Escrita” cujo objetivo exposto no texto é proporcionar à criança o conhecimento e aprimoramento do uso da Língua Portuguesa escrita. Também estimular com diferentes técnicas e recursos, a criatividade e a capacidade da criança de externar seus pensamentos de forma clara e objetiva. O material utilizado dependerá da atividade a ser desenvolvida, ou seja, gravuras, textos, gibis, revistas, jornais, jogos pedagógicos, brincadeiras e outros.  O texto apresenta um exemplo de uma atividade de produção escrita como explorar uma gravura e ter como apoio as palavras o quadro e pedir que criem uma história sobre ela. Ou então observar uma história em sequência com os fatos ordenados e contá-las através da língua de sinais e depois redigi-la.
Ideias para ensinar Português para surdos na educação regular é um livro que permite a reflexão de professores de alunos surdos que se encontram nos anos iniciais do ensino fundamental que buscam uma perspectiva bilíngue.


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*Graduanda em Licenciatura em Pedagogia / E-mail:celeste.menezes@gmail.com
**Idem / E-mail: elianadjm@hotmail.com
***Idem /E-mail:ssnana39@hotmail.com
****Idem / E-mail: renildasizilio@yahoo.com.br


Atividade da 2ª Unidade da disciplina: Língua Brasileira de Sinais - Libras.
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NARRATIVA SOBRE O PERCURSO DA DISCIPLINA DE LIBRAS E OS SEUS BENEFÍCIOS PARA O MEU FUTURO

Celeste Maria Fonseca Menezes*

          Quando ingressei na UNEB em 2011.1, não constava a disciplina de LIBRAS na grade curricular que me entregaram no momento da matrícula. Recebi uma grade de 2008 e muitas disciplinas foram incluídas depois, principalmente a de LIBRAS. Fiquei muito curiosa ao saber que teríamos essa disciplina, Língua Brasileira de Sinais. Não sabia que poderíamos ter em sala de aula,  aluno surdo e que  consequentemente, não soubesse falar. Hoje sei que foi pura ignorância de minha parte, nunca poderia pensar assim, mas minha curiosidade continuou.  Fiquei ansiosa para que a disciplina fosse logo oferecida, acontecendo no 8ºsemestre, ano atual.  Finalmente, pensei que iria aprender tudo de Libras, mas sessenta horas de aula não são suficientes, então me pus a pesquisar.
         A minha ansiedade foi muita que não esperei iniciar as aulas para saber sobre LIBRAS, recorri à pesquisa antecipadamente. Encontrei na Internet uma breve história da Língua Brasileira de Sinais e fiquei sabendo da existência do Instituto de Surdos que hoje é Instituto Nacional da Educação dos Surdos – INES, que foi a primeira escola para surdos no Brasil e fundada em 1857. Foi interessante saber a existência desse instituto, não sabia a preocupação que se tinha ou se tem por pessoas surdas que não falam.
          Na pesquisa que fiz, fiquei sabendo que por ser a única instituição para surdos no país e no continente, o INES foi muito procurado por brasileiros e estrangeiros, virando referência na educação, socialização e profissionalização de surdos.
         Continuando com a pesquisa: Em 1880, houve em Milão um congresso que proibiu a língua de sinais (gestual), achou-se por melhor adotar a oralização julgando que esta seria de melhor valia para a educação e o aprendizado dos surdos.
          Tomei conhecimento que muitos movimentos e muita pesquisa na área legitimaram como Língua, a comunicação gestual entre surdos. Apenas no século XX intensificaram querendo a oficialização da língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), em 1993, o projeto de lei entrou na batalha para a regulamentação de Libras no país. Em 2002, a Língua Brasileira de Sinais foi reconhecida e aceita como a segunda língua oficial brasileira através da Lei nª10.436, de 24 de abril de 2002. Em 2005, através do Decreto nº 5.626, a Língua Brasileira de sinais foi regulamentada como disciplina curricular. Em 2010, foi regulamentada a profissão de Tradutor/Intérprete de Libras, simbolizando uma grande conquista.
          Particularmente, conheci uma criança de 9 anos surda que não falava, mas se comunicava muito bem, por meio de gestos criados por ele e seus irmãos. Chamava-se Vanderlino, mas o chamávamos de Lino, era um menino muito alegre, não conhecia a língua de sinais, e não estudava, era o sétimo dos oito filhos de uma vizinha onde eu morava. Eu não entendia como uma pessoa nessas condições poderia se comunicar apenas por gestos e expressões faciais. Essas me faziam até entender melhor, porque era visível quando ele estava triste, alegre, com raiva, nervoso, ansioso, preocupado, e outros sentimentos que ele conseguia demonstrar muito bem com expressões do rosto.
E assim, fomos convivendo com sinais e gestos que ele criava.  Hoje, não tenho notícias dele, nem da família. Sei que não moram mais no mesmo lugar. Espero que estejam bem e Lino com uma boa profissão.
          Não foi só Lino  nessas condições que apareceu em minha vida. Tive uma sobrinha que nasceu surda e permaneceu assim até o fim de sua vida. Ela se comunicava por sinais, mas aprendeu já adulta. Desde que nasceu foi detectada a deficiência auditiva, mas a mãe, com quem ela convivia não se preocupou  e deixou o tempo passar. Ela tinha quinze anos quando foi aprender a língua de sinais. Estudou em escola regular, tinha dificuldade de aprender, mas aprendeu a costurar e fez dessa arte a sua profissão que era a mesma de sua mãe, criava e vendia seus modelos. Conseguiu terminar o ensino médio, gostaria de fazer um curso superior, mas não deu tempo, pois teve um namorado e com ele um filho, e ao mesmo tempo, descobriu ter sido infectada pelo vírus do HIV. Preocupada com a saúde do filho (nasceu bem, não foi infectado), ela se tratou e conseguiu viver até a idade de 35 anos. Ela faleceu em 2013.
            Continuando a narrativa da disciplina de LIBRAS, ministrada pela professora Sheila e muito bem, foi uma disciplina muito interessante, porém deveria ser oferecida no início do curso e pelo menos em duas disciplinas, ou seja, LIBRAS I e LIBRAS II. Com certeza teríamos mais aprendizado sobre a língua de sinais. Sei que a carga horária de 60 horas é muito pouca e antes de querer aprender a comunicação de língua de sinais devemos estudar mais sobre o assunto. Por isso além dos estudos indicados pela professora Sheila, os textos passados para leitura, como por exemplo: o texto de Roberto César, “Por uma educação  inclusiva e reflexiva”, no qual o autor afirma que “enquanto os brasileiros não se conscientizarem de que a mudança principal deve ocorrer no seio da sociedade, para que essa mudança ocorra em todos os setores, a inclusão na educação tornar-se-á um discurso difícil de ser praticado.” Ou seja, a inclusão não deve estar limitada a simples integração da pessoa ao ambiente educacional, pois, é nesse ambiente onde os surdos são ainda mais discriminados em detrimento da barreira linguística.
            Uma aula muito interessante foi sobre os parâmetros fonológicos para se expressar com Libras. A configuração de mão, por exemplo, usando uma das mãos para fazer a soletração das palavras das línguas orais. Hoje, com a disciplina, conheço o alfabeto datilológico, mas não tenho habilidade para usá-lo, sei que ele é apenas um suplemento das línguas de sinais. De acordo com o INES, o alfabeto datilológico usado atualmente no Brasil é um conjunto de 27 formatos ou configurações diferentes de uma das mãos e cada configuração corresponde a uma letra do alfabeto do português escrito, incluindo o “ç”. A soletração deve ser  devagar, formando as palavras com nitidez. Entre as palavras soletradas deve-se fazer uma pausa ou mover a mão direita para o lado esquerdo, como se estivesse empurrando a palavra soletrada para o lado. Termos como cultura surda, estudos surdos, comunidade surda, e outros que aprendi com a disciplina de Libras.
          Interessantes também foram os temas pesquisados e apresentados pelos grupos dos colegas durante o semestre, mas foi muito importante a visita que a turma fez à Escola Vitor Soares, onde contém um pavilhão de inclusão, onde os estudantes são variados na idade e na  formação escolar. Eles passam de nível de escolarização iniciando pela adaptação, passando pelo Tempo Formativo I que se refere ao Ensino Fundamental I, com três (3) Eixos: sendo o Eixo I, com os níveis 1-Pré-alfabetização, 2-Alfabetização e 3- 1ª série; o Eixo II, com  a 2ª e a 3ª séries; e o Eixo III, com a 4ª série. O interessante nesta escola é que o aluno é preparado para ser integrados na escola regular, caso não consiga, continua no pavilhão de inclusão. Seria muito bom se todas as escolas pudessem ter um procedimento igual a esse da Escola Vitor Soares.
            Foi de grande importância a participação de Cíntia (deficiente auditiva), filha da colega Eliana em um dos grupos e a professora Sheila como intérprete foram atitudes  de muito valor para o nosso conhecimento. De modo que a disciplina de LIBRAS como benefício para o meu futuro proporcionou uma noção de como se comunicar e entender as pessoas com deficiência auditiva e como  no futuro poderia ser aprimorada para o exercício da docência na área. Tenho a agradecer à professora Sheila à oportunidade de tomar conhecimento de um saber tão importante para nossa sociedade.

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*Graduanda em Licenciatura em Pedagogia


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