SUGESTÕES DE ATIVIDADES DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS
Celeste Maria Fonseca Menezes*
Maria Eliana de Jesus Machado**
Nadir Santana de Santana***
Renilda Sizílio****
“Ideias
para ensinar português para alunos surdos “livro de Ronice Müller de Quadros e de Magali
L.P.Schmiedt ,possui em sua estrutura 120 páginas, Apresentação, Prefácio,
Capítulos 1, 2, 3 e Referências. Ronice Müller é professora e pesquisadora da
Universidade Federal de Santa Catarina no Centro de Comunicação e Expressão -
CCE, no Departamento de Línguas Estrangeiras, é coordenadora geral na
modalidade à distância do Curso de Letras Língua Brasileira de Sinais. Segundo as
autoras a educação constitui direito de todos os cidadãos brasileiros, surdos
ou não, e cabe aos sistemas de ensino viabilizar as condições de comunicação que garantam o acesso ao
currículo e à informação. A Língua Brasileira de Sinais - Libras e a Língua
Portuguesa são as línguas que permeiam a educação de surdos e se situam
politicamente enquanto direito. O Português é a
língua oficial do país e uma segunda língua para pessoas surdas o que
exige um processo formal para sua
aprendizagem.
As autoras pretendem com este livro, considerando
o contexto apresentado no Capítulo 2:Sugestões de Atividades de Língua
Portuguesa para Surdos, apresentar sugestões descritas com clareza pelos
exemplos, descrições e imagens expostos. Apontam o objetivo, o material, o
desenvolvimento da atividade, exemplos e imagens. Iniciando com a atividade “Trabalhando
com o Saco das Novidades”, dinâmica realizada na educação infantil de uma
escola de surdos do Rio Grande do Sul, adaptada para o trabalho com a Língua
Portuguesa, as autoras pretendem estimular a habilidade na criança de se
expressar perante o grupo expondo seus pensamentos de forma clara e organizada. O saco é feito de pano, escrito
“Saco de Novidades” e o nome logo abaixo do aluno ou aluna. Cada criança deve
ter seu próprio Saco de novidades e toda sexta-feira será levado para casa e
retornado na segunda-feira com uma novidade dentro, que pode ser um passeio,
uma brincadeira, um lanche...
O texto apresenta o exemplo de uma
boneca dentro do saco de novidades para se trabalhar formando frases e
conjuntamente com o grupo formar um texto, ou uma história. Muito interessante
essa atividade.
Segundo o texto“ Trabalhando o Saco
de Surpresa” é uma variação da atividade
an-
terior,
com a diferença de que o professor
escolhe e traz os objetos e não a criança. Se trabalha por temática e o
objetivo é desenvolver na criança a capacidade de expressar sensações táteis ou
visuais, de forma “oral” em língua de sinais e escrita, proporcionando à criança
experiência de análise e síntese, descrição, classificação e conceituação.
Também feito de pano, saco bem maior que o das novidades, onde podem ser
colocados vários objetos, de formas e tamanhos diferentes, ao mesmo tempo. O
tecido não pode ser transparente e os objetos escolhidos devem ser conforme o
tema a ser trabalhado. O saco fica sempre na sala e pode ser utilizado pelo
professor na introdução de temas. Atividade desenvolvida em grupo, porém cada criança, um
a um coloca a mão dentro do saco e pega um objeto e explora-o inicialmente sem
vê-lo. A criança tenta descrever o objeto pela percepção tátil e desenvolve aí
a conversação em língua de sinais com todo o grupo, até esgotar as
possibilidades de questionamentos.
A atividade seguinte proposta no
texto é “Trabalhando com mesas diversificadas”, dinâmica desenvolvida diante de
dificuldades e desafios no trabalho de alfabetização de surdos pela professora
Jane, do Rio Grande do Sul. Esta atividade tende a desenvolver na criança
autonomia para realização de tarefas; propiciar no mesmo período da aula,
atividades diferenciadas de forma dinâmica e interessante. Com materiais
diversificados dependendo das atividades programadas para as mesas, abrangendo
diversas áreas do conhecimento, envolvendo uma ou mais temáticas, incluindo
jogos e /ou brincadeiras, podem ser individualmente ou em grupos pequenos,
conforme objetivos traçados pelo professor. O número de mesas deve ser maior
que o número de crianças para manter o fluxo de revezamento das crianças nas
atividades. O professor explica cada atividade e o material a ser utilizado em
cada mesa, e cada atividade terminada é trocada de mesa até que todas as
crianças tenham participado de todas as mesas ou que termine o tempo dado pelo
professor para a atividade. No final das atividades fazer e explorar um
registro geral da dinâmica, usar os dados quantitativos para criação e
resolução de problemas matemáticos. E usar os materiais produzidos em outras
atividades com a língua portuguesa.
A atividade seguinte apresentada no
texto é “Trabalhando com Vivência”, que segundo as autoras, essa atividade é
enriquecedora para a criança que experimenta, cria e descobre novos conceitos,
também para o educador se souber aproveitar cada momento, levantando
questionamentos significativos para as crianças e para seu trabalho como um
todo. Elas salientam ainda que a palavra
“vivência” nesta atividade significa
toda situação de experiência proporcionada às crianças e planejada com
elas, com objetivos definidos. Toda vivência está contextualizada em um texto
oral, ou seja, o professor e as crianças conversam sobre o que está acontecendo
(crianças surdas na língua de sinais passando posteriormente para registro na
língua portuguesa). O texto apresenta um exemplo: “Trabalhando com o reino
vegetal”, onde é exposta uma foto de um grupo de surdos da 3ª série fazendo um
estudo sobre o reino vegetal.
O texto apresenta a atividade
“Trabalhando Leitura e Vocabulário” é
uma atividade interessante pois as autora afirmam que trabalhar com lista de
palavras soltas, fora de um contexto, não produz bons resultados na
aprendizagem de uma língua, então, “palavras novas” devem ser trabalhadas
partindo-se de textos. A sugestão aqui, segundo o texto é que a fixação de
vocabulário e desenvolvimento na leitura ocorre também a partir de jogos e
brincadeiras, então o objetivo desta atividade é ampliar e fixar o conhecimento
de palavras da língua portuguesa de forma lúdica.
A última atividade trabalhando com
“Produção Escrita” cujo objetivo exposto no texto é proporcionar
à criança o conhecimento e aprimoramento do uso da Língua Portuguesa escrita. Também
estimular com diferentes técnicas e recursos, a criatividade e a capacidade da
criança de externar seus pensamentos de forma clara e objetiva. O material utilizado dependerá da
atividade a ser desenvolvida, ou seja, gravuras, textos, gibis, revistas,
jornais, jogos pedagógicos, brincadeiras e outros. O texto apresenta um exemplo de uma atividade
de produção escrita como explorar uma gravura e ter como apoio as palavras o
quadro e pedir que criem uma história sobre ela. Ou então observar uma história
em sequência com os fatos ordenados e contá-las através da língua de sinais e
depois redigi-la.
Ideias para ensinar Português para surdos na
educação regular é um livro que permite a reflexão de professores de alunos
surdos que se encontram nos anos iniciais do ensino fundamental que buscam uma
perspectiva bilíngue.
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*Graduanda
em Licenciatura em Pedagogia / E-mail:celeste.menezes@gmail.com
**Idem /
E-mail: elianadjm@hotmail.com
***Idem
/E-mail:ssnana39@hotmail.com
****Idem
/ E-mail: renildasizilio@yahoo.com.br
Atividade
da 2ª Unidade da disciplina: Língua Brasileira de Sinais - Libras.
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NARRATIVA SOBRE O
PERCURSO DA DISCIPLINA DE LIBRAS E OS SEUS BENEFÍCIOS PARA O MEU FUTURO
Celeste Maria Fonseca
Menezes*
Quando ingressei na UNEB em
2011.1, não constava a disciplina de LIBRAS na grade curricular que me
entregaram no momento da matrícula. Recebi uma grade de 2008 e muitas
disciplinas foram incluídas depois, principalmente a de LIBRAS. Fiquei muito
curiosa ao saber que teríamos essa disciplina, Língua Brasileira de Sinais. Não
sabia que poderíamos ter em sala de aula,
aluno surdo e que
consequentemente, não soubesse falar. Hoje sei que foi pura ignorância
de minha parte, nunca poderia pensar assim, mas minha curiosidade continuou. Fiquei ansiosa para que a disciplina fosse
logo oferecida, acontecendo no 8ºsemestre, ano atual. Finalmente, pensei que iria aprender tudo de
Libras, mas sessenta horas de aula não são suficientes, então me pus a
pesquisar.
A minha ansiedade foi muita que não esperei iniciar as aulas para saber
sobre LIBRAS, recorri à pesquisa antecipadamente. Encontrei na Internet uma
breve história da Língua Brasileira de Sinais e fiquei
sabendo da existência do Instituto de Surdos que hoje é Instituto Nacional da
Educação dos Surdos – INES, que foi a primeira escola para surdos no Brasil e fundada
em 1857. Foi interessante saber a existência desse instituto, não sabia a
preocupação que se tinha ou se tem por pessoas surdas que não falam.
Na pesquisa que fiz, fiquei sabendo que por
ser a única instituição para surdos no país e no continente, o INES foi muito
procurado por brasileiros e estrangeiros, virando referência na educação,
socialização e profissionalização de surdos.
Continuando com a pesquisa: Em
1880, houve em Milão um congresso que proibiu a língua de sinais (gestual),
achou-se por melhor adotar a oralização julgando que esta seria de melhor valia
para a educação e o aprendizado dos surdos.
Tomei conhecimento que muitos movimentos e muita pesquisa na área
legitimaram como Língua, a comunicação gestual entre surdos. Apenas no século
XX intensificaram querendo a oficialização da língua Brasileira de Sinais
(LIBRAS), em 1993, o projeto de lei entrou na batalha para a regulamentação de
Libras no país. Em 2002, a Língua Brasileira de Sinais foi reconhecida e aceita
como a segunda língua oficial brasileira através da Lei nª10.436, de 24 de
abril de 2002. Em 2005, através do Decreto nº 5.626, a Língua Brasileira de
sinais foi regulamentada como disciplina curricular. Em 2010, foi regulamentada
a profissão de Tradutor/Intérprete de Libras, simbolizando uma grande conquista.
Particularmente, conheci uma criança de 9 anos surda que não falava, mas
se comunicava muito bem, por meio de gestos criados por ele e seus irmãos.
Chamava-se Vanderlino, mas o chamávamos de Lino, era um menino muito alegre,
não conhecia a língua de sinais, e não estudava, era o sétimo dos oito filhos
de uma vizinha onde eu morava. Eu não entendia como uma pessoa nessas condições
poderia se comunicar apenas por gestos e expressões faciais. Essas me faziam até
entender melhor, porque era visível quando ele estava triste, alegre, com
raiva, nervoso, ansioso, preocupado, e outros sentimentos que ele conseguia
demonstrar muito bem com expressões do rosto.
E assim, fomos convivendo com sinais e gestos
que ele criava. Hoje, não tenho notícias
dele, nem da família. Sei que não moram mais no mesmo lugar. Espero que estejam
bem e Lino com uma boa profissão.
Não foi só Lino nessas condições
que apareceu em minha vida. Tive uma sobrinha que nasceu surda e permaneceu
assim até o fim de sua vida. Ela se comunicava por sinais, mas aprendeu já adulta.
Desde que nasceu foi detectada a deficiência auditiva, mas a mãe, com quem ela
convivia não se preocupou e deixou o
tempo passar. Ela tinha quinze anos quando foi aprender a língua de sinais.
Estudou em escola regular, tinha dificuldade de aprender, mas aprendeu a
costurar e fez dessa arte a sua profissão que era a mesma de sua mãe, criava e
vendia seus modelos. Conseguiu terminar o ensino médio, gostaria de fazer um
curso superior, mas não deu tempo, pois teve um namorado e com ele um filho, e
ao mesmo tempo, descobriu ter sido infectada pelo vírus do HIV. Preocupada com
a saúde do filho (nasceu bem, não foi infectado), ela se tratou e conseguiu
viver até a idade de 35 anos. Ela faleceu em 2013.
Continuando
a narrativa da disciplina de LIBRAS, ministrada pela professora Sheila e muito
bem, foi uma disciplina muito interessante, porém deveria ser oferecida no
início do curso e pelo menos em duas disciplinas, ou seja, LIBRAS I e LIBRAS
II. Com certeza teríamos mais aprendizado sobre a língua de sinais. Sei que a
carga horária de 60 horas é muito pouca e antes de querer aprender a
comunicação de língua de sinais devemos estudar mais sobre o assunto. Por isso
além dos estudos indicados pela professora Sheila, os textos passados para
leitura, como por exemplo: o texto de Roberto César, “Por uma educação inclusiva e reflexiva”, no qual o autor
afirma que “enquanto os brasileiros não se conscientizarem de que a mudança
principal deve ocorrer no seio da sociedade, para que essa mudança ocorra em
todos os setores, a inclusão na educação tornar-se-á um discurso difícil de ser
praticado.” Ou seja, a inclusão não deve estar limitada a simples integração da
pessoa ao ambiente educacional, pois, é nesse ambiente onde os surdos são ainda
mais discriminados em detrimento da barreira linguística.
Uma
aula muito interessante foi sobre os parâmetros fonológicos para se expressar
com Libras. A configuração de mão, por exemplo, usando uma das mãos para fazer
a soletração das palavras das línguas orais. Hoje, com a disciplina, conheço o
alfabeto datilológico, mas não tenho habilidade para usá-lo, sei que ele é
apenas um suplemento das línguas de sinais. De acordo com o INES, o alfabeto
datilológico usado atualmente no Brasil é um conjunto de 27 formatos ou
configurações diferentes de uma das mãos e cada configuração corresponde a uma
letra do alfabeto do português escrito, incluindo o “ç”. A soletração deve
ser devagar, formando as palavras com
nitidez. Entre as palavras soletradas deve-se fazer uma pausa ou mover a mão
direita para o lado esquerdo, como se estivesse empurrando a palavra soletrada
para o lado. Termos como cultura surda, estudos surdos, comunidade surda, e
outros que aprendi com a disciplina de Libras.
Interessantes
também foram os temas pesquisados e apresentados pelos grupos dos colegas
durante o semestre, mas foi muito importante a visita que a turma fez à Escola
Vitor Soares, onde contém um pavilhão de inclusão, onde os estudantes são
variados na idade e na formação escolar.
Eles passam de nível de escolarização iniciando pela adaptação, passando pelo
Tempo Formativo I que se refere ao Ensino Fundamental I, com três (3) Eixos:
sendo o Eixo I, com os níveis 1-Pré-alfabetização, 2-Alfabetização e 3- 1ª
série; o Eixo II, com a 2ª e a 3ª
séries; e o Eixo III, com a 4ª série. O interessante nesta escola é que o aluno
é preparado para ser integrados na escola regular, caso não consiga, continua
no pavilhão de inclusão. Seria muito bom se todas as escolas pudessem ter um
procedimento igual a esse da Escola Vitor Soares.
Foi
de grande importância a participação de Cíntia (deficiente auditiva), filha da
colega Eliana em um dos grupos e a professora Sheila como intérprete foram
atitudes de muito valor para o nosso
conhecimento. De modo que a disciplina de LIBRAS como benefício para o meu
futuro proporcionou uma noção de como se comunicar e entender as pessoas com
deficiência auditiva e como no futuro poderia
ser aprimorada para o exercício da docência na área. Tenho a agradecer à
professora Sheila à oportunidade de tomar conhecimento de um saber tão
importante para nossa sociedade.
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*Graduanda
em Licenciatura em Pedagogia
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